imagem zdzisław beksiński
*
Cabeça com tentáculos de harpia,
obeso como grávido
escaravelho,
despreza (deliberadamente)
as leis
que o desagradam.
Contrata paraguaios, chilenos,
bolivianos,
hondurenhos, guatemaltecos,
haitianos
para trabalharem
em sua fábrica,
sem carteira de trabalho.
Tudo é número
no anguloso inferno fabril.
Multiplica as horas
para a moagem do malte,
a maceração,
a fervura do mosto,
a adição dos lúpulos de aroma,
a decantação.
Com olhar imóvel de um porco
morto,
contabiliza os ganhos
de sua rapinagem
clandestina,
como quem conta cordeiros
ou estrelas.
Um dia, cinco musculosos
haitianos
pegaram o pilantra
pelas orelhas,
surraram-no
e jogaram-no
no meio da fervura.
Após o expediente,
reuniram todo o pessoal
no quintal da fábrica
e beberam muita, muita cerveja.
2014
*
Claudio
Daniel é poeta, editor da revista
eletrônica Zunái e colunista da
CULT. Publicou, entre outros títulos, Poemas
para a Palestina (2014), Cores para
cegos (2010) e Figuras metálicas
(2004).
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