sábado, 26 de abril de 2014

BREVE HISTÓRIA DO FABRICANTE DE CERVEJA

imagem zdzisław beksiński

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Cabeça com tentáculos de harpia,
obeso como grávido
escaravelho,
despreza (deliberadamente)
as leis
que o desagradam.
Contrata paraguaios, chilenos, bolivianos,
hondurenhos, guatemaltecos,
haitianos
para trabalharem
em sua fábrica,
sem carteira de trabalho.
Tudo é número
no anguloso inferno fabril.
Multiplica as horas
para a moagem do malte,
a maceração,
a fervura do mosto,
a adição dos lúpulos de aroma,
a decantação.
Com olhar imóvel de um porco morto,
contabiliza os ganhos
de sua rapinagem
clandestina,
como quem conta cordeiros
ou estrelas.
Um dia, cinco musculosos haitianos
pegaram o pilantra
pelas orelhas,
surraram-no
e jogaram-no
no meio da fervura.
Após o expediente,
reuniram todo o pessoal
no quintal da fábrica
e beberam muita, muita cerveja.

2014



Claudio Daniel é poeta, editor da revista eletrônica Zunái e colunista da CULT. Publicou, entre outros títulos, Poemas para a Palestina (2014), Cores para cegos (2010) e Figuras metálicas (2004).


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